Sonhar é um dos primeiros gestos humanos. Antes mesmo de aprendermos a falar, já imaginamos.
O sonho está em muitos lugares. Ele pode estar no brilho dos olhos de uma criança, no gesto generoso de quem estende a mão e, ao mesmo tempo, na esperança de um futuro melhor. Sonhar é, então, um ato de fé no amanhã. E foi um sonho – coletivo, ousado e profundamente humano – que deu origem à Fundação Iniciativa, no dia 18 de maio de 1988.
Nascimento do nosso sonho
Em 1988, um grupo de pessoas decidiu transformar a inquietação diante da dura realidade social em ação concreta. Eles olharam para as ruas e viram o que muitos não viam: crianças invisíveis, vivendo sem proteção, sem afeto e sem perspectiva. E sonharam. Sonharam com um lugar onde essas crianças pudessem ser acolhidas com dignidade. Onde a infância fosse respeitada. Onde o cuidado, o carinho e a estrutura emocional fossem oferecidos com a mesma seriedade com que se oferece alimento e abrigo.
Eles sonharam com lares, não apenas casas. Sonharam com uma rede de apoio capaz de reconstruir histórias. E assim nasceu a Fundação Iniciativa. Uma iniciativa movida, desde o início, por sonhos. Sonhos que se entrelaçaram: os dos fundadores, os dos primeiros colaboradores e, acima de tudo, os das crianças acolhidas.
Porque toda criança sonha. Mesmo aquelas que viveram o abandono, a negligência ou a violência. Talvez especialmente essas. Sonham com coisas que para muitos parecem pequenas demais, mas que, para elas, são grandes demais para sonhar sozinhas.
Algumas sonham em ter um bolo de aniversário, com vela, parabéns e abraço. Outras sonham em dormir sem medo, sem ouvir gritos, sem sentir frio, sem ter que fugir. Sonham em ir à escola e abrir uma mochila cheia de lápis coloridos, livros com figuras e um estojo só delas. Sonham com alguém sentado ao lado no sofá, assistindo a um desenho animado no fim da tarde. Sonham com uma mão que segura firme ao atravessar a rua. Com um colo. Com um “boa noite”. Com um “você é importante”.
Esses sonhos, por mais simples que pareçam, exigem algo raro: presença.
E é isso que oferecemos há 37 anos. Presença real, constante e cuidadosa. Uma presença que se manifesta por meio das mães sociais, do suporte multidisciplinar, do compromisso ético com cada criança acolhida. Uma presença que se traduz em escuta, em proteção, em estrutura e, logicamente, em amor.
Mais do que abrigar, nós ajudamos a redesenhar os contornos da infância. E, ao fazer isso, reacendemos a chama dos sonhos.
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Um pouco de ciência, um pouco de emoção
Todas as noites, enquanto dormimos, nosso cérebro continua em atividade. É durante o sono que ele organiza memórias, processa emoções e… sonha!
A ciência explica que sonhar é uma função natural do cérebro, ativa durante a fase REM do sono, quando nossos olhos se movem rapidamente e a mente se enche de imagens, histórias e sensações.
Mesmo que nem sempre nos lembremos ao acordar, todos nós sonhamos. Esta é uma atividade tão humana quanto respirar.
Mas sonhar vai além da biologia. Sonhar é também desejar. É imaginar um futuro e criar com a mente aquilo que o coração anseia. Se os sonhos noturnos acontecem no silêncio da mente, os sonhos do dia acontecem no espaço da esperança.
Aqui, na Fundação, acolhemos crianças e adolescentes que trazem em si os dois tipos de sonho. À noite, elas sonham como qualquer criança e adolescente. Durante o dia, com o apoio e o carinho que recebem, começam a sonhar com o que podem ser. Sonham com um amanhã mais leve, mais justo e, com certeza, mais bonito.
Nosso compromisso pode parecer simples, mas, diferente disso, ele é muito poderoso: oferecer a crianças e adolescentes o que eles precisam para que os sonhos, tanto os que nascem dormindo quanto os que nascem desejando, tenham espaço para florescer.
Porque todo grande futuro começou, um dia, com um sonho. E todo sonho, quando cultivado, pode virar realidade.
Leia o nosso Manifesto pela infância
Por que desenhar sonhos?
Porque toda criança precisa de cor, forma e espaço para imaginar o amanhã. E porque sonhar sozinho, às vezes, não basta.
É preciso apoio, cuidado e alguém que acredite junto.
Nosso trabalho é justamente esse: ajudar cada criança e adolescente a pegar o lápis da própria história e, com traços firmes ou até tímidos, começar a desenhar um caminho possível.
Oferecemos acolhimento, educação, proteção e afeto. Criamos um ambiente seguro no qual o medo dá lugar à confiança, e as cicatrizes do passado não impedem os planos para o futuro.
Desenhar sonhos é, então, dar contorno ao invisível. Cada atividade, abraço e refeição servida aqui é uma pincelada a mais nesse desenho coletivo. Porque quando desenhamos sonhos juntos, eles deixam de ser apenas sonhos e começam a se tornar realidade.
Nós trabalhamos para que todos os acolhidos, um dia calados pela dor, voltem a imaginar novos horizontes com leveza. É isso que temos feito ao longo de quase quatro décadas.
Centenas de crianças passaram pela Fundação. Cada uma delas carregava um sonho diferente. E todas encontraram, aqui, pessoas dispostas a sonhar junto. Gente que acredita que a transformação começa com um gesto, com um olhar e com a coragem de amparar.
Agora, nesses quase 37 anos, continuamos desenhando sonhos. E mais: convidamos todos a fazer parte dessa construção. Porque sonhar é humano, mas realizar sonhos é tarefa coletiva.
Quando nos unimos em prol de um propósito maior, nenhum sonho é pequeno demais.
Vamos sonhar juntos?
Por: Rafaela Linhares