“Assim que iniciei a contação da história, o sorriso e o reconhecimento foram imediatos”. É assim que a psicopedagoga Patricia Oliveira, da Fundação Iniciativa, descreve a reação das crianças ao apresentar a releitura do conto “A princesa e a ervilha”, da ilustradora Rachel Isadora, que recria o clássico com personagens negros e uma ambientação inspirada no continente Africano.

A atividade aconteceu na semana passada, em celebração ao Dia da Consciência Negra. Mas, na Fundação Iniciativa, o compromisso com uma educação antirracista não se resume à data. No dia a dia, as crianças têm acesso a jogos, brinquedos, bonecas que representam diferentes etnias, culturas e características físicas.
Para Patrícia, estes materiais garantem referências positivas e plurais às crianças. “A diversidade também é trabalhada na rotina por meio de contação de histórias, rodas de conversa e atividades que promovem reconhecimento, pertencimento e valorização da identidade”, destaca.
A urgência de se trabalhar o assunto
De acordo com dados da UNICEF, conversar sobre raça não é apenas importante, é urgente. O artigo aponta que os bebês já percebem diferenças físicas, como cor da pele, a partir dos seis meses de vida. Por volta dos cinco anos, muitas crianças começam a reproduzir vieses raciais presentes no ambiente em que crescem, tratando de forma mais favorável pessoas de determinados grupos. Isso acontece porque, desde cedo, elas estão imersas em um contexto social marcado pelo racismo estrutural, que atravessa escolas, meios de comunicação e relações cotidianas. Assim, silenciar o tema não as protege: ao contrário, deixa as crianças ainda mais vulneráveis aos preconceitos que circulam na sociedade.

Como a Fundação acolhe e educa diante de situações de preconceito
Na Fundação Iniciativa, esse cuidado acontece na prática. Patrícia explica que essas situações são acolhidas de forma educativa e cuidadosa. A saber, a equipe trabalha com a mediação de conflitos, conversas guiadas e exercícios de reflexão que reforçam valores como respeito, igualdade e dignidade humana.
“Registramos e acompanhamos cada caso, garantindo que qualquer manifestação de discriminação seja tratada de maneira pedagógica e alinhada às normativas de proteção integral”, afirma. É um trabalho contínuo feito de escuta e diálogo. Ou seja, um trabalho que mostra como a educação antirracista começa no cotidiano, nas pequenas interações e nas referências positivas que cercam as crianças.
O relatório “O impacto do racismo na infância” reforça essa importância: a infância é o período mais sensível para construir ou romper estereótipos raciais. É nessa fase que as crianças formam percepções sobre si mesmas e sobre o outro. Quando o diálogo é ausente, o que prevalece é que já está posto na sociedade.
Estudos citados pela BBC, inclusive, mostram que o racismo vivido na infância deixa marcas emocionais profundas, afetando autoestima, confiança e até o desenvolvimento social.
Um ambiente que fortalece identidade, voz e pertencimento
Por isso, o trabalho realizado na Fundação Iniciativa segue exatamente o que especialistas recomendam: falar sobre o assunto, acolher dúvidas, explicar as diferenças e mostrar que todas elas são parte do mundo em que vivemos.
As crianças precisam compreender, desde cedo, que podem tanto reproduzir atitudes racistas quanto sofrer com elas, e que, em ambos os casos, precisam de orientação, proteção e informação.
Ao criar um ambiente onde essas conversas acontecem com leveza e respeito, onde a diversidade aparece nos brinquedos, nas histórias e nas relações, a Fundação apoia cada criança a crescer reconhecendo a estrutura racista em que estamos inseridos, mas também percebendo que ela tem valor, identidade e voz para transformá-la.
Por: Isabela Tota


