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Violência física e psicológica: como identificar sinais de agressão contra crianças e adolescentes
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Desde a década de 1950, organizações especializadas como a ONU e diversos países ao redor do mundo têm trabalhado em ações mais efetivas para que as crianças tenham seus direitos fundamentais garantidos, sobretudo, visando a proteção contra qualquer tipo de insegurança que possa afetar suas vidas e sua dignidade. 


Porém, dados atuais evidenciam números crescentes no que diz respeito ao índice de violência física e psicológica contra menores, as quais  são consideradas crime de maus-tratos. No Brasil, ocorrências como estas ocupam o segundo lugar no crime contra crianças e adolescentes com maior número de registros em boletins de ocorrência. 


Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgados no segundo semestre deste ano apontam um aumento de 21% no índice de violência infantil entre 2020 e 2021, o que representa 20 mil casos registrados em apenas um ano. Ainda de acordo com a pesquisa, 62% dos crimes com vítimas entre 0 e 17 anos têm maiores índices com crianças de 0 a 9 anos, sendo que 91% das vítimas têm até 14 anos. Os números demonstram que os crimes de violência atingem em maioria crianças de faixas etárias mais baixas, com pico de ocorrência entre crianças de 6 anos de idade.


Conversamos com Angélica Mocelin, psicóloga da Fundação Iniciativa, para entender o que é a violência psicológica e quais são os sinais deixados pelas crianças e adolescentes, a fim de prevenir a ocorrência de mais casos.


Quando se trata de violência psicológica, a agressão ocorre de forma diferente do que na agressão física. Angélica explica que a violência psicológica se apresenta como ameaças feitas em tom de voz agressivo e pressões psicológicas contra a pessoa indefesa. “O agressor normalmente é mais forte e ameaçador e utiliza palavras que torturam a vítima”, destaca. A psicóloga ainda explica que o perfil do agressor é sempre de uma pessoa que se coloca em posição de autoridade ou superior à vítima. “Normalmente, esse agressor em sua história de vida e na infância também teve uma criação autoritária e agressiva, com vivências de violência e acesso a este tipo de situações”, afirma.


Frente a casos de violência psicológica, crianças e adolescentes deixam sinais perceptíveis que podem ser identificados por quem convive com eles. Segundo a psicóloga da Fundação, a vítima muda seu comportamento abruptamente e regride a fases anteriores, como a infantilização, por exemplo.


De acordo com a psicóloga Angélica, alguns sinais são simples de perceber, tais como:

  • Se era falante, a criança para de falar;
  • Se era quieta, se retrai mais ainda;
  • Deixa de comer ou passa a comer muito e compulsivamente;
  • Fica com sono agitado, não dorme ou dorme muito e não quer sair da cama;
  • Negligencia a higiene e não quer mais brincar;
  • A automutilação é o sinal mais frequente em adolescentes, além da agressividade e choros sem respostas.

Os impactos causados pela violência são diversos e, às vezes, irreversíveis dependendo da gravidade do trauma vivido pela vítima. Angélica comenta que crianças vítimas de violência psicológica se tornam mais retraídas e inibidas. Por outro lado, algumas crianças reproduzem comportamentos agressivos em colegas menores. “Quanto mais tempo as vítimas passam sob esse tipo de trauma, mais difícil se torna para elas ressignificarem essas vivências”, afirma Angélica.


Acolhimento institucional como suporte às crianças e adolescentes vítimas de violência

A Fundação Iniciativa auxilia crianças e adolescentes acolhidos, que sofreram tais violências, a ressignificar seu passado, com ações pautadas em carinho, amor, dignidade, respeito e atenção. Os meios de prevenção e de reparação da violência física e psicológica, segundo Angélica, se concentram na redução de danos através da identificação do caso, orientação, terapia e proteção da vítima.
O processo de recuperação para crianças e adolescentes acolhidos pela Fundação Iniciativa começa a partir do acolhimento da criança e do adolescente em suas vivências. “O primeiro passo é entender e ter empatia com suas feridas e mostrar a eles que são vítimas, pois muitos se sentem culpados pela violência que sofreram”, afirma Angélica.

O acolhimento institucional promove às crianças e adolescentes um espaço protetivo e de acesso aos seus direitos. Durante o processo, eles são ensinados sobre como é uma educação saudável, a partir do amor, carinho e cuidado. Aprendem sobre seus direitos e que adultos não podem agir de forma violenta com eles, mesmo que sejam pai ou mãe. Como parte importante da recuperação, muitas das vítimas também fazem terapia para trabalhar seus traumas.


Orientação psicológica em instituições de acolhimento


De acordo com Angélica, o papel do psicólogo na instituição de acolhimento é o de escuta terapêutica para fins de identificação das violências e dos traumas, além da orientação às vítimas que se sentem culpadas. O psicólogo desempenha um papel fundamental na busca dos direitos violados, através do ensino às crianças e adolescentes acolhidos sobre como eles podem garantir seus direitos, sobre o que é violência e as ferramentas para sair de uma situação de quebra de respeito. “O psicólogo ensina a vítima a como ter autoestima, a se observar e se conhecer melhor, mostra como se comportar adequadamente através de técnicas da psicologia, ensina a viver em sociedade, fazendo com que tenham capacidade de reflexão sobre muitos aspectos e, assim, entendem suas histórias e perdoem seu passado”, relata Angélica.

Os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública ainda revelam que 81% dos crimes de maus-tratos aconteceram nas casas das vítimas. Contudo, os diversos ambientes em que crianças e adolescentes vivem podem gerar tais situações. A psicóloga da Fundação ressalta que é preciso dar mecanismos de defesa às crianças e adolescentes, os ensinando a identificar o que é violência, o que não deve ser aceito e onde pedir ajuda. “Temos que ensinar as vítimas a falar, mesmo que o agressor faça ameaças”, conclui. 


A partir da manutenção e garantia de seus direitos, prevenção e principalmente do cuidado, é possível visualizar um futuro mais seguro para as crianças e adolescentes.

Denúncias sobre a violação dos direitos humanos podem ser feitas através do Disque 100.


Por: Aline Pfeil

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